Brasil.
Sexta-feira, 08 de abril de 2022.
08:00 da manhã.
O VELHO TOM E NANCY.
NANCY VARREU e espanou o quartinho fronteiro à escada do sótão com particular atenção aos cantos. Ao passar o pano molhado no assoalho, em certos momentos esfregava com esforço excessivo — menos para atacar alguma mancha renitente do que para espantar certas ideias que lhe ocorriam. A despeito da sua submissão um tanto amedrontada, Nancy não era nenhuma santa.
— Eu — murmurava ela, em compasso com o vaivém do pano molhado. — queria muito... varrer... os cantos... da sua alma. — e parando para descansar: — Deve ser cheia de cantos sujos. A ideia de botar a pobre menina neste quartinho sem ar... e sem aquecimento no Inverno... tendo inteiramente vazia uma casa tão grande, com tão bons cômodos, esta é mesmo de primeiríssima. "Por num mundo já tão cheio mais uma criancinha!" Hum! Aposto que não há no mundo uma criaturinha que seja mais necessária a alguém do que essa.
Depois voltou ao serviço e trabalhou em silêncio até terminar tudo. Pôs-se de pé e correu os olhos pelo quartinho feio, franzindo o nariz.
— Muito bem. Minha parte está terminada. Não há mais nenhum pó. Triste menina! Que lugar acharam para aninhar uma pobre criatura sem mãe e arrancada da terra onde sempre viveu! — e dizendo isto Nancy retirou-se, batendo a porta sem querer. — Oh! — exclamou, mordendo os lábios. E depois: — Que bem me importa ! Que ouça o barulho, ora bolas! Bati, mesmo. Bati porque quis, ora aí está...
Naquela tarde Nancy pôde dar uma prosa no jardim com o velho Tom, o jardineiro que desde tempos imemoriais lutava com as azedinhas tiriricas dos canteiros.
— Senhor Tom, — começou ela, depois de espiar se Miss Polly não estava por perto. — conhece a menina que vem morar aqui?
— Quê? — exclamou o velho, erguendo-se e estirando os músculos mordidos de câimbras.
— A menina que vem morar com Miss Polly.
— Deixe-se de brincadeiras! — respondeu Tom, incrédulo. — Por que não me conta que o Sol vai nascer do lado contrário amanhã?
— É verdade, sim. Ela mesma me disse. — afirmou Nancy. — Uma sua sobrinha de onze anos, filha duma irmã já morta.
O queixo do velho Tom quase se despregou da cara.
— Impossível! — rosnou ele; mas logo seus olhos brilharam. — Que bom se fosse assim! A filhinha de Mrs. Jennie! É a única que viveu. Quem sabe se é certo, Nancy? Oh! A filhinha de Miss Jennie! Deus tenha Miss Jennie no Céu e me faça ver aqui a sua filhinha.
— Quem era essa Miss Jennie?
— Um anjo fugido do Céu! — murmurou o velho, com fervor. — Mas o meu falecido amo e a falecida patroa não sabiam disso; pensavam que ela apenas fosse a sua filha mais velha. Tinha vinte anos quando se casou e lá se foi. Todos os seus filhos morreram, ouvi dizer, exceto uma menina — essa que vem vindo...
— Tem onze anos já.
— Sim, deve ser isso. — calculou o velho, meneando a cabeça.
— E vai ficar no quartinho do sótão, perto da escada! Imagine! — disse Nancy, correndo outra vez os olhos em redor, de medo da patroa.
O velho Tom franziu a testa. Depois sorriu.
— Não sei o que Miss Polly vai fazer com uma criança nesta casa. — disse.
— E eu queria saber é o que essa criança vai fazer com Miss Polly. — replicou Nancy.
O velho sorriu.
— Já vejo que não gosta muito de Miss Polly...
— Haverá quem goste?
O velho sorriu de novo e retomou o seu trabalho, dizendo:
— Você não sabe nada, menina; não sabe do caso de amor de Miss Polly...
— Caso de amor, com ela? Não! Não me venha com isso, senhor Tom. Impossível que alguém possa ter amado semelhante criatura.
— Pois houve quem pudesse. — disse o velho. — E ainda está vivo esse cujo... e mora aqui na cidade.
— Quem é ele?
— Não é conveniente que eu diga. — respondeu Tom, erguendo-se de novo. Em seus mortiços olhos azuis estampava-se a velha lealdade dos empregados que servem toda a vida à mesma família.
— Não, não é possível. — insistiu Nancy. — Miss Polly com um namorado. Ora!
Tom meneou a cabeça.
— Você não conheceu a Miss Polly que eu conheci. Era uma criatura realmente linda, e ainda o seria se...
— Linda? Miss Polly?
— Sim. Miss Polly. Se ela não usasse aquele cabelo puxado para trás e se se vestisse como se vestem as que pensam em si, você veria como ainda é bela. Miss Polly não é velha, não, Nancy.
— Não é? Nesse caso, sabe imitar a velhice muito bem. Finge muito bem. — murmurou Nancy, com ironia. — É uma artista...
— Eu sei, eu sei. Isso começou, esse desleixo, quando veio a briga com o namorado. — explicou Tom. — E desde então parece que só se alimenta de serpentes e vespas venenosas. Tudo começou a partir dessa briga.
— Pois para mim ela não está assim; sempre foi assim. — disse Nancy, em tom indignado. — Nada vejo nela de bom, por mais que o senhor diga. E eu não ficaria aqui se não fosse o estado da mamãe e a conta que nos faz o que recebo. Mas um dia a coisa muda e direi adeuzinho à tal grande senhora. Ora se...
O velho Tom fez um gesto de cabeça.
— Eu sei. Já percebi isso. É natural... mas não será melhor para você, menina. Ouça o que digo: não será melhor. — e curvou-se de novo sobre o canteiro, retomando o serviço.
— Nancy! — gritou uma voz aguda.
— Já vou indo, senhora. — respondeu Nancy, e correu para dentro. 🌹
Esse foi o segundo capítulo!
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